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Um certo dia uma das Madres ficou tão zangada comigo e humilhou-me tanto, que eu pensava que não suportaria mais. Disse-me ¨Excêntrica, histérica, visionária, suma do meu quarto, não quero mais ver a Irmã.¨- E caiu sobre a minha cabeça todo um palavrório. Ao chegar à minha cela, caí de bruços diante do crucifixo e olhei para Jesus; já não era capaz de pronunciar uma só palavra. E, no entanto, eu disfarçava diante das outras e fingia que nada tinha havido entre nós.
Satanás sempre aproveita de tais momentos; começaram a assaltar-me pensamentos de desânimo: ¨Eis a recompensa pela tua fidelidade e sinceridade. Como se pode ser sincera, quando se é assim tão incompreendida? ¨ ¨Jesus, Jesus, não aguento mais! ¨Caí novamente ao chão sob esse peso e cobri-e de suor; uma espécie de temor começou a dominar-me. Não tinha em quem me apoiar interiormente. Nisso ouvi uma voz na alma: Não temas: Eu estou contigo! E uma luz estranha iluminou a minha mente; compreendi então que não devia render-me a essas tristezas. Uma força penetrou -me e saí da cela com nova coragem, pronta para enfrentar os sofrimentos.
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Mas, apesar de tudo, comecei a desleixar-me um pouco. Não prestava atenção às inspirações interiores, procurando ficar distraída. Mas, apesar da algazarra e da distração, eu percebia o que estava acontecendo na minha alma. A palavra de Deus é eloquente e nada pode sufocar. Comecei a evitar o encontro com o Senhor na própria alma, porque não queria ser vítima de ilusões. No entanto, o Senhor parecia perseguir-me com os Seus dons e, realmente, eu experimentava ora dor, ora alegria. Não menciono aqui as diversas visões e graças que Deus me concedeu nesses momentos, porque tenho anotado isso em outra parte, mas mencionarei aqui que, tendo todos esses sofrimentos chegado ao cúmulo, resolvi, antes dos votos perpétuos, pôr um termo a essas dúvidas. Durante todo o tempo da provação, eu rezei pedindo luzes para o sacerdote diante do qual eu devia desvendar-me - abrir inteiramente a minha alma. E pedia a Deus que Ele mesmo me ajudasse nisso e me desse a graça de poder exprimir as coisas mais secretas que se dão entre mim e o Senhor, e que me dispusesse a considerar, como vindo do próprio Cristo tudo o que esse sacerdote decidisse. Não importa o que julgar de mim, eu desejo somente a verdade. Já não posso viver mais em dúvidas e embora na minha alma tivesse tanta certeza sobre a proveniência divina de todas essas coisas a ponto de morrer por elas, resolvi colocar a opinião do confessor acima de tudo e proceder como ele decidisse e segundo suas indicações. Vejo que esse momento decidirá tudo.Não importa se me falará de acordo com as minhas inspirações ou exatamente ao contrário; isso já não me importava. O que eu desejava, era conhecer a verdade e segui-la.
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