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Do meu ponto de vista e experiência, a regra do silêncio deveria estar em primeiro lugar.Deus não se comunica à alma tagarela que, como zangão na colmeia, zumbe muito, mas não fabrica mel. A alma tagarela é vazia interiormente. Não há nela nem virtudes sólidas, nem familiaridade com Deus. Não há nela condições para levar uma vida mais profunda, para a doce paz e silêncio, em que reside Deus. A Alma que não saboreou a doçura do silêncio interior é um espírito inquieto e perturba o silêncio dos outros. Vi muitas almas nos abismos do Inferno, por não terem observado o silêncio. Elas mesmas me disseram isso, quando lhes perguntei qual tinha sido a causa da sua perdição. Eram almas de religiosas. Meu Deus, que grande dor, pois, afinal, poderiam não apenas estar no Céu, mas mesmo ser santas!
Ó Jesus, misericórdia! Até tremo quando penso que devo prestar contas da minha língua! Nela está a vida, mas também a morte; muitas vezes, matamos com a língua, cometemos verdadeiros homicídios, e ainda consideramos isso como coisa pequena? Realmente, não compreendo consciências desse gênero. Conheci uma pessoa que, tendo sabido de certa coisa que dela se falava...adoeceu gravemente, e resultou disso que perdeu muito sangue e derramou muitas lágrimas. E este triste resultado não foi causado por uma espada, mas apenas pela língua. Ó meu Jesus silencioso, tende misericórdia de nós!
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Enveredei pelo assunto do silêncio, mas não é disso que queria falar, e sim da vida da alma com Deus e de como responde à graça. Quando a alma foi purificada e o Senhor convive com ela familiarmente, então agora é que toda a força da alma começa ser empregada na busca de Deus. Contudo, ela por si nada pode,mas somente Deus que dispõe tudo, e a alma sabe disso e tem consciência disso. Ela ainda vive no exílio e compreende bem que isso de uma maneira bem diferente do que no passado. Não se sente segura numa falsa paz, mas prepara-se para a luta. Ela sabe que pertence a uma geração de guerreiros e mais consciente de todas as coisas. Ela sabe que é de linhagem real, e que tudo que é grande e santo, refere-se a ela.
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Uma série de graças Deus derrama sobre a alma depois dessas provas de fogo. A alma deleita-se com uma estreita união com Deus. Tem muitas visões sensitivas e intelectuais, ouve muitas palavras sobrenaturais e, muitas vezes, ordens claras, mas apesar dessas graças, ela não se basta a si mesma. Tanto mais porque, tendo-lhe Deus concedido tais dons, sabe que se encontra exposta a diversos perigos e facilmente pode cair na ilusão. Deve pedir a Deus um diretor espiritual, e não apenas rezar pedindo um diretor, mas esforçar-se na procura de um guia que seja experiente, como o comandante, que tem que conhecer os caminhos que levam à Batalha. A alma que está unida com Deus deve ser preparada para grandes e árduos combates.
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