Pagina 63 Versos 121 a 124



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Uma série de graças Deus derrama sobre a alma depois dessas provas de fogo. A alma deleita-se com uma estreita união com Deus. Tem muitas visões sensitivas e intelectuais, ouve muitas palavras sobrenaturais e, muitas vezes, ordens claras, mas apesar dessas graças, ela não se basta a si mesma. Tanto mais porque, tendo-lhe Deus concedido tais dons, sabe que se encontra exposta a certos perigos e facilmente pode cair na ilusão. Deve pedir a Deus um diretor espiritual, e não apenas rezar pedindo um diretor, mas esforçar-se na procura de um guia que seja experiente, como o comandante, que tem que conhecer os caminhos que levam à batalha. A alma que esta unida com Deus deve ser preparada para grandes e árduos combates.
Após essas purificações e provas, Deus permanece na alma de maneira especial, todavia, a alma nem sempre colabora com essas graças. Não que ela mesma não queira trabalhar, mas porque encontra tão grandes dificuldades exteriores e interiores que é preciso realmente um milagre, para que essa alma possa manter-se nessas alturas. Aqui se faz necessário um diretor. Frequentemente enchia-se de dúvidas a minha alma e, algumas vezes, eu mesma me atemorizava, pois pensava que, afinal de contas, era uma ignorante e não tinha conhecimento de muitas coisas e menos ainda de coisas espirituais. No entanto, se as dúvidas aumentavam, eu buscava luz com o confessor ou com as Superioras, embora não recebesse aquilo que desejava.

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Quando me abri às Superioras, uma delas compreendeu a minha alma e o caminho pelo qual Deus me conduzia. Enquanto me atinha às suas orientações, comecei a progredir rapidamente no caminho da perfeição. Mas isso não durou muito tempo. Ao desvendar mais a fundo minha alma, não recebi o que desejava: para a Superiora essas graças pareciam impossível, de modo que nada mais dela pude receber. Disse-me que não era possível que Deus convivesse dessa maneira com a criatura. ¨Temo pelo Irmã, porque talvez seja alguma ilusão. Que a Irmã peça o conselho de algum sacerdote¨. Contudo, o confessor não me compreendeu e disse: ¨É preferível que a Irmã fale sobre essas coisas com as Superioras. ¨E assim eu andava das Superioras ao confessor, do confessor às Superioras, sem encontrar tranquilidade. As graças divinas tornaram-se para mim um grande sofrimento. Dizia, algumas vezes, claramente ao Senhor: ¨Jesus, eu tenho medo de Vós. Não sereis algum fantasma?¨Jesus sempre me tranquilizava, mas eu continuava incrédula. Coisa estranha: Quanto menos acreditava, tanto mais Jesus me dava provas de que tudo provinha d¨Ele.

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Quando percebi que as Superioras absolutamente não me tranquilizavam, resolvi não falar nada mais dessas coisas puramente interiores. Exteriormente, procurava, como boa religiosa, dizer tudo às Superioras, mas, sobre as necessidades da alma, daqui por diante só falava no confessionário. Por várias e muitas justas razões, compreendi que a mulher não foi chamada a distinguir tais mistérios. Expus-me a muitos sofrimentos desnecessários. Por muito tempo fui considerada como possessa pelo demônio e olhavam para mim com pena, e a Superiora começou a tomar certas precauções a meu respeito. Vinha aos meus ouvidos que as Irmãs também assim me consideravam. E escureceu o horizonte em minha volta. Comecei a evitar essas graças divinas, mas em vão, pois, afinal, isso não estava no meu poder. De repente, ficava envolta em tão grande recolhimento que, mesmo contra a minha vontade, mergulhava em Deus, e o Senhor me mantinha junto de si.

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Nos primeiros momentos, a minha alma ficava sempre um pouco atemorizada, mas em seguida uma estranha paz e força enchia a alma.



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