Pagina 58 Verso Diário 112


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Algumas palavras sobre confissão e confessores. Mencionarei somente aquilo que experimentei e vivi na minha própria alma. Há três coisas que impedem a alma de se beneficiar da confissão nesses momentos excepcionais.
A primeira: Quando o confessor tem pouco conhecimento das vias extraordinárias e se mostra surpreso quando a alma lhe desvenda grandes mistérios que Deus nela opera. Essa atitude já atemoriza uma alma sensível e ela percebe que o confessor hesita em expor o seu ponto de vista e, se a alma percebe isso e não se tranquiliza, depois da confissão terá dúvidas ainda maiores do que antes dela, porque ela pressente que o confessor se esforça por tranquilizá-la, (mas) sem convicção. Ou, como já me aconteceu, o confessor, não podendo penetrar em certos mistérios da alma, recusa-lhe a confissão, manifestando um certo temor sempre que ela se aproxima do confessionário. Como pode a alma em tal estado se tranquilizar-se no confessionário, se ela se torna cada vez mais sensível a cada uma das palavras do sacerdote? Na minha opinião, em momentos assim, da prova especial enviada por Deus à alma, se o sacerdote não a compreende, deveria indicar-lhe algum confessor experimentado e sábio, ou ele mesmo adquirir luzes, para dar à alma aquilo de ela necessita, e não simplesmente  negar-lhe a confissão. Porque dessa maneira a expõe a um grande perigo, e mais de uma alma pode abandonar o caminho no qual Deus queria tê-la de maneira especial. Trata-se de algo muito importante, porque eu mesma passei por isso, de modo que já começava vacilar, apesar desses especiais dons de Deus, embora Ele próprio me tranquilizasse, eu sempre desejava ter o selo da Igreja.
A Segunda: Quando o confessor não permite que a alma se exprima sinceramente e lhe mostre impaciência. A Alma então cala-se e não diz tudo. Com isso, não obtêm benefício, e muito menos ainda, quando o confessor, sem conhecer realmente a alma, começa a experimentá-la. Isto termina por prejudicá-la em vez de ajudá-la. Ela sabe que o confessor não a entende, já que não permite que ela se abra inteiramente, tanto quanto às graças como quanto à própria miséria. Por conseguinte, a prova não é apropriada. Passei por algumas provas que me causaram riso. Expressar-me-ei melhor com estas palavras : O confessor é o médico da alma; pode o médico que não conhece a doença receitar o remédio adequado? - Nunca - Porque, ou não surtirá efeito desejado ou dará um remédio forte demais, o que aumentará o  mal, e algumas vezes - Deus nos livre - provocará a morte. Falo isso por experiência própria; em certos momentos era o próprio Senhor que me sustentava diretamente.

A terceira: Quando acontece que o confessor, algumas vezes faz pouco das coisas pequenas. Não há nada de pequeno na vida espiritual. Algumas vezes, uma coisa aparentemente insignificante desvenda uma outra de grande importância e constitui para o confessor com um raio de luz para conhecer a alma. Muitas matizes espirituais escondem-se em coisas pequenas.
Nunca poderá ser construído um grande edifício, se rejeitarmos os tijolos, por mais pequenos que sejam. De algumas almas, Deus exige uma grande pureza, dando-lhes um conhecimento mais profundo da própria miséria. Iluminada pela luz do Alto, conhece melhor o que agrada a Deus e o que não Lhe compraz. O pecado depende do grau de consciência e das luzes da alma; o mesmo se diga também das imperfeições. Embora a alma saiba que só pertence ao sacramento da penitência o pecado em sentido estrito- mesmo assim essas pequenas coisas têm uma grande importância na busca da santidade, e o confessor abre o caminho que conduz  aos mais profundos recônditos da alma. Ela, como que involuntariamente desvenda sua profundidade abissal e sente-se mais forte e mais resistente; luta com maior coragem, esforça-se mais, porquanto sabe que de tudo deve prestar contas.
Mencionarei mais uma coisa quanto ao confessor. Ele deve, algumas vezes, experimentar, deve pôr à prova, deve exercitar, para saber se está lidando com palha, ou com ferro, ou com ouro puro. Cada uma dessas três categorias de almas necessita de um exercício diferente. É absolutamente imprescindível que o confessor forme a respeito de cada alma um conceito claro, para saber o que ela pode suportar em certos momentos, circunstâncias e casos particulares. Quanto a mim, foi só mais tarde, após muitas experiências, quando percebi que não era compreendida, que resolvi não desvendar a minha alma e não perder mais a serenidade. Mas isso aconteceu somente quando todas essas graças estavam já sob o juízo de um sábio, instruído e experiente confessor. Agora sei como devo proceder em certos casos.

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