Pagina 40 Diario Versos 66 a 68


66
Ó tesouro inesgotável da pureza de intenção, que tornas todas as nossas ações perfeitas e tão agradáveis a Deus!
Ó Jesus, Vós sabeis como sou fraca, por isso ficai sempre comigo, guiai os meus atos, todo o meu ser. Vós, meu melhor Mestre! Na verdade, Jesus, o temor me assalta  quando vejo a minha miséria, mas ao mesmo tempo tranquilizo-me vendo a Vossa insondável misericórdia, que, sendo eterna, é maior que a minha de miséria. E essa disposição de ânimo me reveste da Vossa força;que alegria brota do conhecimento de si mesmo, ó Verdade Imutável, o Vosso durar é eterno.

67
Logo depois dos primeiros votos, tive problemas de saúde. Apesar do cordial e zeloso cuidado das Superioras e dos médicos, não me sentia nem pior nem melhor; então, começaram a chegar aos ouvidos insinuações de que estava fingindo. Esse fato redobrou ainda meu sofrimento e isso demorou um bom tempo.Certo dia, queixava-me a Jesus por constituir um peso para as Irmãs. Jesus respondeu-me: - Não vives para ti mesma, mas para as almas. Dos teus sofrimentos terão proveito outras almas. O teu contínuo sofrimento lhes dará luz e forças para se conformarem com a Minha vontade.

68
O meu sofrimento mais doloroso era o fato de achar que as minhas orações não eram agradáveis a Deus, nem mesmo as boas ações. Não ousava levantar os olhos para o Céu. Isso me causava tão grande sofrimento que, quando me encontrava na capela participando dos exercícios espirituais em comum, a Madre Superiora, terminados os exercícios, chamou-me à parte e me disse: ¨A Irmã a Deus graça e consolo, porque realmente eu mesma vejo e as Irmãs me dizem que o próprio aspecto da Irmã desperta compaixão. Realmente, nem sei o que fazer a Irmã. Ordeno que a Irmã não se preocupe com coisa alguma.¨- Entretanto, todas essas conversas com a Madre não me traziam qualquer alívio, nem qualquer esclarecimento sobre o meu estado.Uma escuridão ainda maior me ocultava Deus. Buscava auxilio no confessionário, mas também ali não (o) encontrava. Um santo sacerdote queria me ajudar-me, mas eu era tão miserável que nem sabia definir os meus sofrimentos e isso me atormentava ainda mais. Uma tristeza mortal se apoderava da minha alma, com tal intensidade, que não era capaz de escondê-la, mas era visível exteriormente . Perdi a esperança. Noite cada vez mais escura. O sacerdote com quem me confessava me disse: - ¨Vejo na Irmã graças especiais e estou completamente tranquilo a seu respeito. Por que a Irmã se atormenta tanto?¨Contudo, nesse momento não compreendia isso, por isso admirava-me muito quando, por penitência, me mandava rezar o Te-Deum ou o ¨Magnificat¨, e algumas vezes ter de correr depressa pelo jardim ao anoitecer, ou rir em voz alta, dez vezes ao dia. Ficava muito admirada com tais penitências, mas esse sacerdote não me ajudou muito. Parecia-me antes que Deus queria que O adorasse pelo sofrimento. Esse sacerdote consolava-me dizendo que nesse estado era mais agradável a Deus do que estivesse cheia dos maiores gozos. ¨Que grande graça de Deus! ¨- dizia ele - ¨que a Irmã, nesse estado atual de tormentos da alma, não ofende a Deus, mas procura exercitar-se nas virtudes! Eu olho para a alma da Irmã, vejo nelas grandes desígnios e graças especiais, e vendo isso na sua alma, rendo graças ao Senhor.¨Mas, apesar de tudo, a minha alma permanecia em sofrimentos e tormentos indivisíveis. Eu era como o cego que confia no guia e segura firmemente sua mão, e em nenhum momento me afastava da obediência, que era para mim a tábua de salvação na prova de fogo.

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